REGINA LONARDI
Fotos: Colaboradores
03/02/2018 às 14h30
Sensibilizados com a tragédia de Brumadinho/MG vários ituanos se dirigiram à cidade mineira para auxiliar no trabalho das equipes de resgate e também para atuar junto à comunidade dando apoio e conforto àqueles que perderam seus familiares. A cidade de Brumadinho está sofrendo com a catástrofe ocorrida com o rompimento da barragem de rejeitos na sexta-feira, dia 25 de janeiro, que ficava na mina do Córrego do Feijão. O mar de lama varreu a comunidade local, parte do centro administrativo e do refeitório da Vale. Entre as vítimas, estão pessoas que moravam no entorno e funcionários da mineradora. A vegetação e rios também foram atingidos.
Os pastores da Igreja Batista Central de Itu, Nino Ribeiro, Lukas Ribeiro (pai e filho respectivamente) e o membro da igreja Matheus de Souza Farias, saíram de Itu na terça-feira, dia 29, e seguiram para Brumadinho para atuar como voluntários. Convivendo com a dor do próximo eles se dividiram na entrega de doações e na ajuda psicológica a centenas de familiares que aguardam no Espaço do Conhecimento, às margens da MG-040, em Brumadinho, a chegada de informações sobre os desaparecidos no rompimento das barragens.
“Resolvemos ir até Brumadinho pela nossa fé, sentimos que devíamos estar lá. Havia alguma coisa dentro de nós dizendo que tínhamos que estar lá. O Espírito Santo nos moveu pra lá pra abraçarmos as famílias, quem estavam de luto”, explica Pastor Lukas.
O pastor Lukas Ribeiro, na entrada que dá acesso à cidade de Brumadinho/MG
“Fomos voluntariamente com o coração aberto para ajudar. Ficamos hospedados na 1a. Igreja Batista de Brumadinho, auxiliando no que precisavam. Ajudamos na lavagem de roupas dos bombeiros, visitamos famílias e atuamos nos velórios e cemitérios”, destaca o pastor Nino Ribeiro.
Para auxiliar no trabalho, um grupo de voluntários, do qual Nino, Lukas e Matheus fizeram parte, também ajudaram a lavar a roupa de quem estava trabalhando. Catorze máquinas de lavar e passar, funcionam 24 horas por dia em Brumadinho, para atender aos bombeiros que trabalham nas operações de busca. As máquinas foram adquiridas através de doações que abastecem um fundo humanitário da Convenção das Igrejas Batistas.
Lavanderia montada na área do desastre, utilizada para lavar as fardas dos Bombeiros, que todos os dias ficam sujas de lama
Além disso, Nino também deu assistência aos familiares que aguardam no Espaço do Conhecimento, a chegada de informações sobre os desaparecidos e apoio na hora do sepultamento. “Muita dor! Tristeza imensa! Filhos sepultando seus pais. Pais com os corações destruídos sepultando filhos, um, dois, às vezes vários da mesma família. Crianças órfãs chorando pelos pais. Muitos desaparecidos, inúmeros! Helicópteros sobrevoando a cidade e os moradores olhando pra cima e me perguntavam: ‘será que meu parente está naquele?”, emociona-se Nino.
O pastor Nino Ribeiro (de colete amarelo) ajudou no sepultamento das vítimas. Os familiares do morto estão desaparecidos.
“Tivemos muitos momentos marcantes. Muitas histórias que mexeram bastante. Um deles foi o velório sem o caixão. Como houve um atraso na funerária já saiu direto para o sepultamento. Aquilo simbolizou a dor de muitas famílias que estavam ali chorando porque não encontravam seus familiares. E esse velório simbolizou muito o que todos estão sentindo. Outro momento marcante foi chegar em casa e encontrar a família. Caiu a ficha de que enterramos o filho de alguém, o marido de alguém, o pai de alguém. E quando eu cheguei em casa e vi que tinha minha mãe, minha irmã, e minha esposa me esperando. Nesse momento eu consegui sentir a dor de lá”, detalha Lukas que retornou para Itu na noite do sábado, dia 2 de fevereiro.
“Muita coisa nos chocou lá. Uma história pior que a outra! Voltamos pesarosos, mas com a sensação de que ajudamos um pouco, ouvindo, abraçando e chorando com eles”, finaliza Nino.
O estudante Matheus de Souza Farias, também decidiu ir como voluntário para Brumadinho para ajudar as famílias. “Queria que as famílias pudessem ter um apoio, como um abraço, um simples ato de levar água, uma conversa (com objetivo deixar a pessoa falar), muitas carregar o caixão (pois as famílias estão sem forças) e ajudar na medida do possível", detalha. “O que mais marcou foi ouvir o relato e história de vida de cada pessoa que pude conversar. Todos na cidade perderam alguém ou conhecem alguém que perdeu alguém... seja familiar ou amigo, todos perderam alguém independente do “grau’ de amizade”.
O voluntário ituano Matheus de Souza Farias olha o Rio de lama que destruiu Brumadinho
Depois dessa experiência, Matheus faz questão de deixar uma mensagem para as pessoas. “Devemos dar valor aos nossos amigos e nossas família pois uma semana podemos estar com eles, comemorando um aniversário ou qualquer outra coisa e na semana seguinte podemos estar num cemitério relembrando momentos tristes de brigas em família ou em amigos, por isso devemos deixar brigas, rixas e invejas de lado e viver uma vida baseado no amor ensinado por Cristo, que é esquecer de si mesmo, ou seja, deixar de lado sua vontade/desejos e viver em prol do próximo”.
“Conseguimos ver lá o que a corrupção causa. Todo mundo sabia que a barragem ia estourar mas esse é o depoimento das pessoas da cidade”, finaliza Lukas.
Moradores protestam e pedem justiça nas ruas de Brumadinho
Monitoramento da Água
Na segunda-feira dia 28 de janeiro, os ituanos Malu Ribeiro e Marcelo Naufal chegaram à Brumadinho para dar início à Expedição Paraopeba da Fundação SOS Mata Atlântica. Malu é coordenadora do programa Água da SOS e da expedição e Marcelo é mobilizador e advogado do projeto Observando os Rios da SOS Mata Atlântica. A Expedição Paraopeba irá percorrer 356 km deste rio, de Brumadinho à Hidroelétrica Retiro Baixo e o reservatório de Três Marias, em Felixlândia para monitorar a água dos rios e mananciais. Esse trabalho está sendo acompanhado por uma equipe formada por seis profissionais da SOS Mata Atlântica, uma equipe da Rede Globo, uma jornalista do Jornal O Estado de S. Paulo e uma correspondente da Deustche.
Tiago Felix , mobilizador e biólogo e o ituano Marcelo Nautal é mobilizador e advogado do projeto Observando os Rios da SOS Mata Atlântica percorrem as áreas afetadas
Em relação à contaminação nas águas da região, a situação é alarmante e Malu diz que ainda não é possível calcular o tamanho do estrago. “Estamos neste momento na região de Pará de Minas, no médio Paraopeba sentido Três Marias onde começa o São Francisco. A lama está descendo o rio lentamente e matando completamente a vida aquática. A água do Rio está indisponível para usos em uma faixa de cem metros de cada margem”, explica. “Estamos fazendo análise da qualidade da água ao longo do Rio Paraopeba, da área afetada até Três Marias, por 305 km, para auxiliar nas medidas de remediação e recuperação e também de advocacia, no sentido de impedir retrocessos na legislação ambiental brasileira que trata do licenciamento ambiental, da fiscalização e do monitoramento de atividades de alto impacto como essa”, detalha.
A ituana Malu Ribeiro, Malu é coordenadora do programa Água da SOS recolhe a água do rio Paraopeba para fazer análise
Malu destaca que a equipe que faz parte da expedição também está em contato com as comunidades diretamente afetadas, com as autoridades - MP e comitês de bacias do Paraopeba, do rio das Velhas e do São Francisco – e outras ONGs parceiras da região. “Outro aspecto é de empoderamento das comunidades na tomada de decisão, evitando acordos que podem levar a impunidade como no caso do Rio Doce. Passados três anos do dano ambiental da Samarco ainda não foram pagas as multas e ninguém foi condenado e preso. Isso agrava a dor e sofrimento das famílias vitimadas”.
A dor e o pesar com a comunidade também toma conta da equipe que integra a expedição. “Meu sentimento é de enorme pesar. Assistir a morte de um grande Rio é presenciar vidas e rotas alteradas. Não apenas das vítimas de hoje mas de gerações. Infelizmente o Brasil entrou para o recorde da maior tragédia ambiental com vítimas fatais decorrente de atividade Minerária do mundo . É o reflexo do desmonte do sistema de meio ambiente e de um modelo de desenvolvimento ultrapassado, na contramão da história”, explica Malu. “É muito grave, mas, somos capazes de reverter essa tragédia e mobilizar esforços de vários setores para recuperação da bacia hidrográfica, em respeito às vítimas e as futuras gerações”, finaliza.
Segundo as análises o rio Paraopeba está morto. A água está sem oxigênio, não tem condição de abrigar vida aquática e não pode ser utilizada para consumo
Bombeiros de Itu
Os Bombeiros de Itu 1º Ten. PM Clóvis Augusto Michelin da Silva, Comandante do Posto de Bombeiros de Itu e o Cabo Ayres viajaram neste sábado, dia 2 de fevereiro, para Brumadinho com o objetivo de ajudar no trabalho de resgate das vítimas da tragédia do rompimento da barragem. Eles fazem parte da equipe de Bombeiros da Região de Sorocaba.
O 1º Ten. PM Clóvis Augusto Michelin da Silva, Comandante do Posto de Bombeiros de Itu, Cabo Ayres, de Itu e de Sorocaba o soldado Alfredo e o Sargento Carneiro
Balanço da tragédia de Brumadinho
Até esta segunda-feira, dia 4, o balanço da tragédia já contabiliza 121 mortos, 114 deles identificados. E o número de desaparecidos é de 205. A Justiça de Minas Gerais negou pedido de liberdade para os 5 presos: 3 funcionários da Vale e 2 engenheiros da TÜV SÜD. Eles foram detidos na terça, dia 29, por suspeita de fraude em documentos que atestavam a segurança da barragem.
LEIA MAIS NOTÍCIAS: