A partir deste ano, evento centenário será chamado de "Queima do Judas", para cumprir Leis em vigor
DA REDAÇÃO - com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Itu
FOTOS: Juca Ferreira / Renata Guarnieri / Prefeitura de Itu / Arquivo Nacional IBGE
Publicada em 12 de Abril de 2022 - 11h30
Após dois anos sem ser realizado, o tradicional Estouro do Judas volta a acontecer este ano com novo nome: "Queima do Judas". Será no domingo de Páscoa, dia 14 de abril às 12 horas. Realizado pela última vez em 2019 no estacionamento da Prefeitura Municipal, a festa popular retorna para a Praça Padre Miguel, em frente à Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária, mesmo local onde essa manifestação começou, aproximadamente 145 anos atrás. Segundo César Benedito Calixto, secretário municipal de Turismo, Lazer e Eventos, a mudança no nome, de estouro para queima, ocorre para cumprir Lei Estadual que proíbe a soltura de fogos com estampido. Em Itu, desde 2017 existe uma Lei Municipal neste sentido, de autoria do médico veterinário e vereador Sérgio Castanheira, que proíbe soltar fogos com estampido, mas abria exceção para o tradicional evento. Porém, a Lei Estadual 17.389/2021, sancionada pelo governador João Dória em julho do ano passado, de autoria de deputados da região, Bruno Ganen (Indaiatuba) e Maria Lúcia Amary (Sorocaba) determina a proibição de soltar fogos com estampido sem criar exceções. E para o cumprimento dessa nova Lei, toda a produção do evento foi adaptada para que as exigências legais sejam observadas.
Evento começou com "Queima"
Em Itu, o primeiro registro sobre o evento envolvendo Judas, o traidor de Jesus conforme as escrituras, foi em 1877, quando o jornal "Imprensa Ytuana" fez uma breve citação sobre malhação e queima de Judas na praça. Três anos depois, numa edição de março de 1880, o jornal já publicou uma nota mais detalhada que dá a entender que seriam inseridos fogos de artifício ao boneco do Judas.
O teor da nota:
"No sábado, depois da missa de Aleluia, será queimado no pateo da Matriz um Judas de fogos de artifício. Trabalho do artista pyrothechnico Joaquim Corneta".
Segundo o professor e historiador Luís Roberto de Francisco, em seu livro "A Paixão Segundo Itu", o responsável pelo acontecimento era o artesão Joaquim da Costa Oliveira, "tido e havido como Joaquim Corneta", que conforme o professor, trouxe a ideia de Portugal e promoveu a queima no largo da Matriz durante muitos anos. Ainda segundo Luís Roberto, inicialmente, o estouro era realizado no Sábado de Aleluia. A mudança para o Domingo de Páscoa se deu apenas no século XX. O pesquisador explica ainda que a tarefa de confeccionar o Judas explosivo já foi exercida por nove gerações de artesãos fogueteiros e quem mais tempo permaneceu na tarefa foi Amador Ferreira Gandra Filho, o Zico Gandra, falecido em 10 de junho de 2010, aos 95 anos.
Zico Gandra, que nasceu no dia 6 de setembro de 1914, era considerado um jovem muito inteligente e criativo. Aos 17 anos já confeccionava um boneco de Judas e queimava esse boneco na Praça da Matriz, nos domingos de Páscoa, num evento paralelo ao tradicional, organizado pelas autoridades da época. Em 1938, já fogueteiro artesanal, Zico Gandra foi convidado para ser o responsável pelo evento, e já na sua estreia, surpreendeu o público, criando dois bonecos mecanizados, o diabo e Judas, que ao se tocarem, explodiam. Os bonecos foram fotografados pelo fotógrafo Settimo Catherini, um dos precursores da fotografia em Itu. Com o tempo esses bonecos foram aperfeiçoados e o espetáculo ganhou fama mundial, tendo sido exibido nas TVs de vários países. Em 2006, o "Estouro do Judas" passou a constar no Guinness Book - o livro dos recordes, como um evento popular único no mundo.
Apaixonado por tudo o que fazia, Zico Gandra era considerado um artista. E apesar de ter o seu trabalho de chefe de produção nas empresas Della Nina e Cobra, foi extremamente dedicado ao trabalho artesanal e permaneceu como coordenador do mais tradicional evento da cidade durante 65 anos, de 1938 até 2003.
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