A exposição A.R.L. Vida e Obra tem mais de 60 obras e tem entrada gratuita das 10 às 22 horas
DA REDAÇÃO - com informações da Assessoria de Imprensa
FOTOS: Divulgação
Publicada em 14 de março de 2023 - 23h00
A.R.L. Vida e Obra é uma exposição inédita em Itu, premiada pelo ProAC - Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, que busca lançar luz a respeito da jornada pessoal e artística do fotógrafo e artista plástico Antônio Roseno de Lima, falecido em 1998.
Com a curadoria do professor doutor Geraldo Porto, a exposição apresenta mais de 60 obras do artista e entra em cartaz no dia 15 de março, no Plaza Shopping Itu.
As obras fazem parte do mais importante acervo do artista, atualmente aos cuidados da Casa da Arte Brasileira, instituto que possui uma rica coleção de obras caras à cultura popular brasileira, contando com cerca de 500 obras de mais de 20 artistas nacionais.
Um espaço no Plaza Shopping Itu será, ainda, destinado para a conclusão da exposição, com ações educativas em formato de oficina. O público visitante poderá experienciar a obra do artista, ao trabalhar com a colagem de diferentes ícones retirados do trabalho de A.R.L. Os resultados ficarão expostos nas paredes do local.
As ações educativas levam em consideração a aprendizagem a experimentação a promoção de estímulos e a motivação a partir do contato direto dos diferentes públicos com o acervo da exposição. O projeto se propõe a dialogar com os visitantes, construindo possíveis significados, e tem como objetivo estimulá-los para que percebam, compreendam e interpretem as obras, os objetos, as provocações e inspirações presentes na exposição.
Vida e obra do artista
Antônio Roseno de Lima nasceu em uma família de cinco irmãos, na cidade de Alexandria (RN), em 22 de junho de 1926, de onde saiu aos 30 anos, sem jamais fazer o caminho de volta. Veio para São Paulo deixando mulher e cinco filhos e aqui conheceu sua companheira Soledade; juntos, vendiam doces na Estação da Luz.
Em 1961, aos trinta e cinco anos de idade, fez um curso de fotografia e começou a fotografar crianças, prédios, aniversários, casamentos, e suas fotos logo ganharam as nuances de seus traços. Em 1976, mudou-se para a favela Três Marias, em Campinas, onde viveu até a sua morte em junho de 1998.
O professor Geraldo Porto teve Roseno como objeto de estudo de sua dissertação de mestrado e acompanhou a sua caminhada desde 1988, quando se conheceram. Porto nos conta, em seu relato acadêmico, que Roseno “viveu durante anos naquele barraco miserável, sem luz elétrica, entre amontoados de papéis velhos, latas, desenhos, pinturas e bichos, onde também improvisava uma venda de balas e cigarros”.
Porto e Roseno se conheceram depois de uma exposição coletiva de Natal com artistas primitivistas no Centro de Convivência Cultural de Campinas: “Fiquei tão fortemente impressionado com a singularidade de sua pintura que imediatamente desejei adquiri-las e conhecer o seu criador. Tive a nítida impressão de estar diante de um artista raro. Um dos quadros em exposição representava um carro de boi pintado sobre Duratex com esmalte sintético.
As figuras desproporcionais e rígidas eram pintadas sobre um fundo vermelho com as frases pintadas ao redor: o carro de boi, condução de cem anos atrás”. O professor foi a primeira pessoa a comprar um quadro A.R.L., que, após vinte e oito anos de persistência na criação de desenhos e pinturas, jamais havia conseguido vender uma obra sua. Passou, então, a divulgar o trabalho do artista, que desconhecia as técnicas acadêmicas de desenho e pintura e tentava sozinho descobrir as técnicas e as matérias de sua arte; era um outsider que pintava apenas o que gostava, à sua maneira e quase todos os dias, trabalhando em séries nas quais repetia a mesma figura inúmeras vezes, usando de materiais precários.
Em todos os seus quadros, ele anexava, com um pedaço de fita crepe, um pequeno bilhete antes manuscrito pelas crianças e depois datilografado e xerocado com uma mensagem que narra seu processo de criação e execução da pintura, seus materiais e, ao final, uma recomendação carinhosa ao comprador: “PARA COMEÇAR FAZER O DESENHO PRECISA LÁPIS, CANETA, ALGODÃO, QUEROSENE, THINER, GASOLINA, PINCEL, RÉGUA, TESOURA, GIZ, PAPEL, SODA CÁUSTICA, FOGO, PREGO, TRABALHO, MADEIRA, TINTA. SERROTE, MESA, CASA, CADEIRA. PARA FAZER ESSE DESENHO FICA MUITO CARO. QUEM PEGAR ESSE DESENHO GUARDA COM CARINHO. PODE LAVAR. SÓ NÃO PODE ARRANHAR. FICA PARA FILHOS E NETOS. TENDO ZELO ATURA MEIO SÉCULO”.
Após um período de contato intenso com o universo do artista e, ao experienciar uma produção caracterizada por uma liberdade extrema, tanto em termos poéticos, quanto estéticos, usando de formas e cores instigantes, impactantes, muitas vezes misturando imagem e texto, Porto pôde estabelecer, conforme colocado em sua dissertação de mestrado, que a obra do “doente dos nervos” (forma com a qual a companheira Soledade o definia) possui características próprias da “Art Brut” e podem ali ser localizadas: são obras que escapam das classificações habituais da história oficial da arte, que estão fora dos movimentos artísticos, alienadas das academias de arte e das tendências e modas artísticas.
Graças ao apadrinhamento de Geraldo Porto, A.R.L. ganhou a primeira exposição individual na Casa Triângulo, São Paulo, em 1991, seguida por A Pintura em Campinas: O Contemporâneo, no Centro de Informática e Cultura II, Campinas, 1992; e Antonio Roseno de Lima, na Cavin Morris Gallery, Nova York (Estados Unidos), 1995.
No mesmo ano, a grife de roupas Fórum comprou 12 imagens para compor sua agenda anual. Uma grande coleção das suas melhores fotografias está no Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas e suas pinturas entraram no acervo de importantes museus, como a famosa “Collection de l’Art Brut”, de Lausanne, Suíça, e o Museu Haus Cajeth, em Heidelberg, na Alemanha, além de figurarem em publicações especializadas e serem comercializadas em galerias de arte principalmente no exterior.
Quando morreu, em 1998, seus trabalhos já estavam em algumas dessas coleções, mas grande parte de sua obra acabou sendo jogada no lixo. Apesar de tamanha dimensão, o fato é que o artista bruto, nordestino, morador da favela, semianalfabeto, outsider por toda a vida, e sua história foram se tornando praticamente desconhecidos em nosso país com o tempo.
A.R.L. Vida e Obra faz parte de um movimento para reparar esta situação e conta também com a realização de ações educativas com a mediação de grupos provenientes de escolas, com o objetivo de estimular a percepção e a compreensão das obras, além de inspirar a criação artística através de oficinas e do uso de materiais didáticos produzidos especialmente para tal.
Antonio Roseno de Lima era um homem simples, muito talentoso e faleceu em 1998
SERVIÇO
Exposição: A.R.L Vida e Obra
Local: Plaza Shopping Itu
Data: a partir de 16 de março, todos os dias, das 10h às 22h
Entrada gratuita
INFORMAÇÕES:
(19) 9.8188-1205 | quantacultura@gmail.com
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