Cortejo do corpo da Rainha Elizabeth II em Londres, em direção ao velório de quatro dias. A foto foi tirada por Elisa, uma ituana que mora em Londres há 12 anos
DA REDAÇÃO - Regina Lonardi
FOTOS: enviada pelos entevistados
Publicada em 19 de setembro de 2022 - 04h40
Desde o momento em que foi anunciada a morte da rainha Elizabeth II aos 96 anos, na quinta-feira, dia 8 de setembro, em sua propriedade na Escócia, muito tem se noticiado sobre o funeral da soberana. O mundo todo lamentou a morte da monarca, que governou o Reino Unido por 70 anos. Ituanos que moram em Londres, em entrevista exclusiva ao Ituanos, contam como foram esses dias de cerimônias e velório da rainha. Em Itu, membros da família Lockley, descendentes de ingleses, também lamentaram a morte da Rainha Elizabeth II. Clique aqui e confira a reportagem
O carro fúnebre com o corpo da Rainha Elizabeth saiu do castelo de Balmoral na Escócia no domingo, dia 11, passou por Dundee e chegou a Edimburgo, a capital da Escócia, onde o corpo da monarca passou a noite no Palácio de Holyrood, residência da família real, até a segunda-feira, dia 12. O caixão seguiu para Londres na terça-feira (13), e somente na quarta-feira (14) o velório público da Rainha Elizabeth II começou a ser realizado.
A ituana Elisa, que mora em Londres há 12 anos, ao saber do falecimento da Rainha, fez questão de ir à frente do Palácio de Buckingham, prestar sua homenagem. "Eu fui sexta-feira lá, no dia seguinte da morte dela e foi muito emocionante ver todas aquelas pessoas prestando homenagem e levando flores, lembranças e presentes para a nossa Rainha", destacou.
Pela última vez, na quarta-feira, a rainha deixou o Palácio de Buckingham, onde morou por mais de 70 anos, com destino ao Westminster Hall, para o velório.
Durante o percurso, Elisa fez questão de estar presente e prestar sua última homenagem à Rainha. Sobre o caixão, como podemos observar na foto no alto da página tirada pela ituana, está a coroa imperial, que Elizabeth colocou na cabeça aos 27 anos de idade. O cortejo seguiu pelas ruas de Londres, ao som da banda das forças de elite do Exército. O corpo foi escoltado pelos granadeiros da Guarda Real ou, simplesmente, a Guarda da Rainha, como são conhecidos. "Foi muito emocionante", destacou a ituana.
Logo que a morte da rainha foi anunciada, muita gente foi ao Palácio de Buckingham, depositar flores e levar lembranças. A ituana Elisa, esteve no local menos de 24 horas após o anúncio do falecimento
O velório público, no Palácio de Westminster, a sede do Parlamento do Reino Unido, a Rainha Elizabeth cumpriu o último dever dela como monarca durante quatro dias. A jornalista Iara de Menezes enfrentou a extensa fila na noite de sexta-feira para sábado, cruzando os mais icônicos cartões-postais londrinos para ver o caixão da rainha Elizabeth II. "Vivo aqui há 24 anos e adquiri minha cidadania inglesa faz 14 anos. Me considero brasileira e inglesa ao mesmo tempo, então sinto que minha sensação de tristeza é igual a de alguém que nasceu aqui", explica a jornalista.
A concentração de pessoas para conseguir ingressar na fila oficial do velório, chamada de "a fila da fila"
Fila para pegar a fila
Para conseguir entrar na fila oficial, Iara explica que demorou. "Andamos quase uma hora para achar o fim da fila em Southwark e depois foram mais 12 horas até chegar ao salão do velório, no Westminster Hall. Ficamos na fila por quase 4 horas para conseguirmos nossas pulseiras. Só após receber as pulseiras, aí, sim, a pessoa passava a ser considerada integrante na fila oficial".
No final de semana, pessoas que tinham a pulseira usada e já tinham utilizado a peça para ingressar no recinto do velório, colocaram o item à venda no site E-Bay, site de vendas tipo "mercado livre" por 350 libras esterlinas, o que corresponde a R$ 2.100 em valores convertidos em reais.
"A fila andava o tempo todo e se alguém parasse para tirar fotos, atrapalhava os que estavam atrás" explica Iara. Durante o percurso até o Westminster Hall, Iara explica que foram espalhados banheiros químicos pelo caminho, os shoppings e cinemas permaneceram abertos para que as pessoas pudessem tomar café e ir ao banheiro. "Estava muito frio e o pé doeu muito", conta.
Acima, a pulseira que deu acesso à fila oficial e o ingresso no velório. Banheiros químicos foram colocados ao longo do percurso da fila
Ao chegar na porta no prédio do Parlamento do Reino Unido, a jornalista explica que os guardas faziam uma revista rigorosa das pessoas e seus pertences. A bolsa era aberta e remédios, balas, batom e comidas eram jogados fora. "Na minha bolsa só ficou a carteira, chave, telefone e óculos. O restante foi jogado fora. E os alimentos que não estavam abertos, estavam proibidos, eram tomados e reservados para serem doados às famílias carentes. O único momento que a fila ficou parada foi durante o ensaio da guarda, que durou uma hora", contou
No destaque, a jornalista Iara de Menezes, que após 12 horas na fila, chegou à entrada do velório, onde visitantes passavam por revista
Para Iara foi emocionante ver a quantidade de pessoas querendo se despedir da Rainha. "As pessoas ficavam emocionadas quando olhavam para o caixão. Foi uma experiência que vou levar para o resto da vida. Estar lá dentro foi muito bonito. Foi uma experiência incrível e no fim, ficamos felizes de ter ido", finaliza a jornalista, que fez o percurso acompanhada da amiga Eleide.
Nesta segunda-feira, o caixão será levado para a Abadia de Westminster, onde ocorrerá o funeral com a presença de chefes de Estado. A cerimônia terminará com um silêncio nacional de dois minutos, antes de ela ser sepultada ao lado de seu falecido marido.
Placas indicando o sentido da fila foram colocadas ao longo de todo o percurso
Outro olhar
Em Londres para cursar mestrado desde o início da pandemia do Coronavírus, o artista plástico ituano Rômulo Avi Oliveira, 30 anos, está na Inglaterra, intermitentemente, o que acabou permitindo uma imigração mais tranquila com o passaporte europeu antes do Brexit efetivo.
"Estar aqui nesse momento é muito interessante. Com Brexit, guerra na Ucrânia e crise econômica se intensificando - além de um governo conservador e que serve à finança internacional - a morte da rainha traz uma instabilidade inédita. É um momento de fragilidade da identidade nacional, o que pode trazer considerações e mudanças produtivas ou terríveis", analisa o artista.
"Pessoalmente, me compadeço o tanto quanto o faria com qualquer outra pessoa. Familiares pessoais sofrem. E perder alguém querido é sempre difícil. Mas não possuo nenhuma afinidade com a instituição da monarquia. É uma estrutura muito arcaica e anacrônica, que não faz jus ao símbolo e arquétipo do rei/rainha, como é idealizado por alguns. Acredito que a comoção excessiva distrai das crises reais e atuais, especialmente em relação ao custo de vida e inflação galopantes. Observando, vejo claramente que a comoção muda dependendo da região ou situação econômica. O norte - em especial a Irlanda e os escoceses - em uma relação complicada com a monarquia, que sempre os privou de autodeterminação política em um ou outro grau".
Rômulo conta que, quando soube do falecimento da rainha Elizabeth II, passou por um momento marcante: "conversando e prestando auxílio a uma pessoa em situação de rua na entrada do metrô, informei a ele também sobre a morte da rainha, e o interessante foi sua reação. Inicialmente se compadeceu, ficou um pouco triste, mas em seguida logo disse: "Por que estou me lamentando pela morte de uma pessoa de 96 anos que viveu no luxo, enquanto estou aqui lutando para dormir com um teto sobre minha cabeça?"
"Confesso que não soube dar uma boa resposta a essa observação", finalizou.
O artista plástico Rômulo Avi Oliveira, vivendo em Londres e analisando a morte da rainha com outro olhar